Série: Meu livro de cabeceira.
- Marlyvan Moraes

- 23 de jul.
- 2 min de leitura
Atualizado: 27 de jul.

Sei Shonagon foi uma escritora e dama da corte da Imperatriz japonesa Teishi, no Período Heian, no ano de 1000 D.C.. Ela conta que “O Alto-Conselheiro Korechika presenteou uma quantidade de papéis à Sua Consorte, e ela me perguntou: ‘O que vamos escrever neles? (...) Foi então que sugeri à Sua Consorte: ‘Talvez, nestas folhas pudéssemos fazer um ‘Travesseiro’... Sua Consorte Imperial aceitou a sugestão e entregou-me os papéis, dizendo: ‘Os papéis são vossos. Escrevei o que vos convier’. Foi então que comecei a escrever sem a mínima pretensão, um pouco disso, um pouco daquilo e, no intuito de preencher todas as incontáveis folhas, temo ter registrado muitas coisas de difícil compreensão.” (2013; p.111)[1].
Essa explicação de Shonagon aparece como um posfácio[2] do seu Livro do Travesseiro, publicado no Brasil em 2013, pela Editora 34. Ela diz que escolheu o que encanta a todos para preencher as folhas. Escreveu como se estivesse fazendo uma lista de categorias: coisas que desapontam; coisas que são desenhadas; rituais esotéricos de cura ou de proteção; coisas que causam constrangimentos. Alguns desses textos são curtos, uma linha; outros ocupam mais de uma página. Ela escrevia ao “sabor do pincel” destacam as tradutoras na apresentação da obra. Shonagon inspira este texto, mas só inspira.
Meu livro de cabeceira nem mesmo folhas tem. Ele se desenha eletronicamente em páginas sem peso, sem textura, sem cheiro. Aqui estão rabiscos, esboços de um processo de dedicação à psicanálise. O primeiro texto trata do conceito de Trauma, o segundo sobre a cena pintada por André Brouillet, em 1887, Une leçon clinique à la Salpêtrière. Disponibilizo estes escritos desejando que a leitura seja um bom momento a aproximar dois sujeitos: eu e quem lê o que aqui se apresenta.
[1] SHONAGON, Sei. O Livro do Travesseiro. São Paulo, ed. 34, 2013. n
[2] Intitulado “Essas Folhas”.




